terça-feira, 15 de junho de 2010

Divagando também


Quando despontaram as novas formas de comunicação e informação através de redes tecnológicas, quebrando todos os paradigmas de tempo e de espaço, as cogitações mais progressistas conduziam à crença de que se romperiam todas e quaisquer barreiras geográficas: o planeta seria unificado, globalizado, uno. Neste sentido, o que se viu é que a dimensão de “cidade” como limite territorial nuclear ganhou força e expressão dentro deste panorama universalizado. O caráter local, paradoxalmente, surgiu como uma nova forma de referência e identidade, fazendo um contraponto à desconstrução cultural advinda da globalização. Na verdade surgiram contrapontos em todas as áreas: às cadeias de fast food , o slow food e o critério da qualidade e do respeito a natureza; ao consumo intenso e desregrado de produtos descartáveis e poluidores, a produção ecológica e biodegradável.

Mas onde ficamos nós no meio disto tudo? Com que critérios gerenciamos nossa capacidade de discernir, fazer escolhas, optar? Enquanto a ecologia pode ser uma bandeira propícia utilizada por uma empresa para ampliar o consumo através do rótulo do “sustentável”, e as cidades podem ser travestidas com máscaras arquiteturais descontextualizadas para adaptarem-se a um modelo de marketing e incentivar o turismo, como está a percepção do homem destas realidades contraditórias? Confuso? Alerta? Disperso?

Enquanto seguimos rotineiramente acordando, comendo, exercendo nossa atividades profissionais, circulando catastroficamente pelas ruas congestionadas da cidade, somos massacrados por uma infinidade de informações, de todas as formas e suportes possíveis, que tentam nos vender idéias. A intensidade e a dimensão do acesso à comunicação ampliaram-se gigantesticamente, e foram sem dúvida o mote propulsor das mudanças em todos os outros contextos. A grande pergunta é: estamos conseguindo desfrutar com consciência desta panacéia de novas possibilidades que se estabeleceu em nossas vidas? Estamos mais próximos? Nos relacionamos mais e com mais naturalidade? Somos capazes de absorver a diversidade e a riqueza cultural que nos é oferecida pela quebra dos limites geográficos que as redes de comunicação nos proporcionam? Ou somos meros componentes de um sistema automatizado, teclando Ctrl C/CtrlV em nosso discurso diário, engolindo displicentemente garfadas de transgênicos, consumindo a cultura do global em detrimento da nossa própria? A escolha é nossa. Podemos optar se reciclamos ou não o nosso lixo; podemos optar se faremos parte desta ou daquela rede social, se vamos consumir fast food ou feira ecológica. Podemos fazer muitos amigos no orkut, e podemos também com um clicar de mouse, descartá-los. Acredito que há que se ter cuidado, para que nesta nova e quase divina possibilidade de seu livre arbítrio, o homem não se aproxime do mundo, mas esqueça do que lhe é peculiar, aquela dimensão de coisas e pessoas reais, que estão ali, bem ao seu lado.

E você, o que pensa a respeito?

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