sábado, 1 de agosto de 2009

Assim Nasceu um Nome

"Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te;
Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou."

"A quem dedicou Luis de Camões este lindo soneto de amor?
E tantas outras poesias e canções, através das quais, o poeta nacional, galanteador e brigão, como o definem os seus biógrafos, se dirige, apaixonado, à sua amada, sem nunca ter conseguido, consumar esse fogo ardente, que o consumia?
Dizem que foi uma tal Caterina de Ataíde, dama da corte, a inspiradora desse tão grande amor, por causa do qual o poeta sofreu vários degredos, os quais o levariam a escrever mais tarde a grande epopeia do Povo Português - «Os Lusíadas» .
Há um certo consenso em relação ao nome da amada de Camões.
Já o mesmo não sucede quanto à sua verdadeira identidade.
É que na corte existiam, pelo menos, três damas com o mesmo nome.
Não vou entrar na polémica, pois para tanto me faltam os conhecimentos.
Mas vou arriscar-me a suportar uma chuva de protestos, referindo que foi desse grande amor do poeta que nasceu um bonito nome próprio feminino, desde então muito em voga.
A única vez que o poeta atribuiu um nome à sua amada Caterina, usou, mesmo assim de um anagrama, inventando um novo nome, em que utilizou todas as letras, que compunham o da sua paixão C-A-T-E-R-I-N-A.
Vejam então o que resultou:

"Na metade do Céu subido ardia
O claro, almo Pastor, quando deixavam
O verde pasto as cabras, e buscavam
A frescura suave da água fria.
Com a folha das árvores, sombria,
Do raio ardente as aves se amparavam;
O módulo cantar, de que cessavam,
Só nas roucas cigarras se sentia.
Quando Liso Pastor, num campo verde,
Natércia, crua Ninfa, só buscava
Com mil suspiros tristes que derrama.
Porque te vás de quem por ti se perde,
Para quem pouco te ama? (suspirava)
E o eco lhe responde: Pouco te ama."

Já viram? Pois com as letras de C-A-T-E-R-I-N-A ele construiu N-A-T-É-R-C-I-A.
Caterina, ou em outras línguas Catherine, tornou-se mais tarde em português, CATARINA.
A etimologia deste nome é incerta.
Dão-lhe alguns o significado de “casta, pura”, derivando-o do grego “katharos”.
Já outros relacionam-no com uma deusa pagã, da magia e do encantamento – Hecaté."
Inácio Steinhardt (estudioso do significado das palavras)

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