domingo, 20 de setembro de 2009

Dois dias, dois monólogos sobre vida e morte

“Coincidentemente”, é o que diriam...
Eu penso que tudo acontece com um propósito, quando se está em sintonia com o ritmo mágico e perfeito da vida, as forças do “acaso” parecem fazer todo sentido...
É como quando, involuntariamente, você decide atravessar a rua, e lá está aquele seu velho amigo, que você não vê há anos, mas em quem pensava naquele exato momento.
Inúmeras são as situações que já vivenciei e que me fazem acreditar no quanto é importante sintonizar seus passos, respirar fundo e calmamente, abrindo-se para os sinais que a vida nos dá, como que sussurrando: -Vai, é por aí, segue em frente...e uma sensação de paz e bem estar invade nossa alma, nos dando a convicção de que estamos no lugar certo, na hora certa, com a pessoa certa...
Pois foram dois dias subseqüentes, dois monólogos sobre vida e morte, (e eu os acho particularmente cansativos) espetáculos teatrais que fazem parte da 16° edição do Porto Alegre em Cena:

Primeiro, “Van Gogh” ,texto baseado na obra de Ever Blanchet que, por sua vez, teve inspiração nas Cartas a Theo, escritas pelo próprio artista a seu irmão. Reproduzo aqui um dos trechos, que sintetiza o clima tenso do espetáculo, onde o ator uruguaio Fernando Dianesi revive a angústia, as atribulações e dores do artista em seus momentos de criação e reflexão:

"NO ENTANTO EU SIRVO PARA ALGO, SINTO EM MIM UMA RAZÃO DE SER, SEI QUE PODERIA SER UM HOMEM COMPLETAMENTE DIFERENTE. No que é que eu poderia ser útil, para o que poderia eu servir; existe algo dentro de mim, o que será então?... Você sabe o que faz desaparecer a prisão. É toda afeição profunda, séria. Ser amigos, ser irmãos, amar, isto abre a porta da prisão por poder soberano, com um encanto muito poderoso. Mas aquele que não tem isto permanece na morte...

Depois, “Só os doentes do Coração deveriam ser atores”, texto baseado no depoimento de um ator polonês cardíaco, transcrito no livro “Além das Ilhas Flutuantes”, do italiano Eugênio Barba, e interpretado pelo ator Antônio Petrin. Ao seu lado, a pianista Elaine Giacomelli interpreta grandes compositores brasileiros e faz o “pano de fundo sonoro” do espetáculo. Reproduzo aqui um dos trechos:

..."Morremos a cada instante, a cada sonho destruído, a cada erro cometido, a cada amor não correspondido, a cada porta fechada, quando constatamos a ausência,quando não conseguimos dizer a verdade, quando não se faz amor (nem me lembro mais disso), quando se tem fome, quando não se tem fome mas sabe que tem um monte de gente com fome, ao constatar que seu avô morreu pobre e fodido, quando fazemos a opção correta mas parece errada, quando fingimos conhecer um assunto que não dominamos, quando recebemos a notícia que seu amado irmão morreu pela madrugada, quando estamos vivos mas sentimos vontade de morrer...
A morte é só a morte, e nada mais.
Porque tudo isso é viver!!!"....
*trecho do texto adaptado,de Eduardo Figueiredo

Ambos os espetáculos me fizeram refletir e ampliaram minhas certezas sobre as escolhas que tenho buscado fazer: simplesmente viver, permitir-me, dizer sim, viver o que a vida me traz, fluir,( e pra isto é necessário expor-se) mesmo sujeitando-me, de forma inerente, à dor...
E remeto ao que escrevi a uma amiga, como quem falava a mim mesma:
Nada é por acaso...
Tudo na vida é aprendizado.
Quando nosso coração está aberto, ficamos mais suscetíveis para interpretar os sinais que a vida nos dá, a todo momento. Cada pessoa que encontramos foi colocada em nosso caminho com um propósito; cabe a nós, envolvidos em nossa leveza de espírito, por vezes aceitar, em outras buscar, o que temos a aprender e a ensinar... Isto é viver!!!
O universo conspira a nosso favor, se estivermos abertos, em sintonia com uma energia muito maior, que se chama amor...

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