sábado, 15 de maio de 2010

Mude!!!

Tem gente que é um legítimo camaleão. Você vê ela hoje e está ruiva, sóbria, óculos de aros pesados, estilo “ser pensante”. Daí encontra na rua e leva um susto, parece outra mulher, loura, descolada, lentes de contato e pele bronzeada. E não é só o visual não. Até o jeito de falar mudou, mudaram seus gostos, suas preferências, se duvidar seu estilo de viver. Admiro pessoas assim, mesmo que seu comportamento denote uma pitada de futilidade e inconstância, elas não se prendem a hábitos, e mesmo que a mudança externa seja talvez ditada pelas tendências, acredito que tem que ter personalidade pra se expor a tantas mudanças e de forma tão visível, tão sujeita à crítica alheia. Talvez muitas personalidades...
Mas tem mudança que é mais sutil, talvez porque aconteça devagar, num processo meio à revelia, muitas vezes sem uma decisão consciente, talvez até por força das circunstâncias. São estas que em geral vêm pra ficar, pelo menos por um período mais longo, até que o relógio da nossa psiquê desperte novamente. E este despertar é quase inconsciente, mas absolutamente necessário, pois é um chamado da alma, do corpo, que pedem adaptações, às vezes difíceis, mas que certamente vão resultar em crédito, em ganhos.
E foram certamente ganhos que obtive quando tive que deixar o carro na garagem (mais por força das circunstâncias sim) e coloquei as pernas pra funcionar. No início a sensação é de quase abstinência, não é fácil o desapego ao hábito. Comecei indo ao mercadinho da esquina, em vez de entrar em um hipermercado. A escala das coisas mudou, a variedade diminuiu, mudaram as opções. Mas descobri o detalhe, sabores diferentes, um aroma caseiro, uma receptividade espontânea. Substituindo a mega locadora com acervo hollywoodiano descobri outra pequena, administrada pelo próprio dono, cujos preciosos filmes ele mesmo seleciona. E se estava complicado visitar uma grande loja de departamentos, porque não comprar uns metros de tecido e acredite, visitar a costureira? Foi com satisfação que constatei o resultado do vestido que eu imaginei, que só eu tenho, e que custou um terço do que custaria.
E se eu havia me desesperado pela sensação de ter perdido totalmente minha autonomia, de repente me senti livre, leve, dona das minhas escolhas. É como se o bairro fosse a extensão da minha casa; se vou ao banco encontro o feirante e ele me chama pelo nome; se vou à locadora tem uma indicação na minha medida. Na antevéspera do Dia das Mães, depois de sair em compras pelo bairro, cheguei em casa carregando flores e bombons com os quais fui presenteada. Me surpreendi não só por ser reconhecida, mas por ser percebida como mãe. E porque esta percepção aumenta minha consciência de mim, dentro desta sociedade cujas referências nos confundem, cuja globalização veste todo mundo com a mesma cor, coloca todo mundo no mesmo saco.
Foi bom mudar. Foi bom perceber que é possível e sano mudar, principalmente quando esta mudança se reflete em autoconhecimento e identidade. É bem mais difícil que pintar o cabelo, neste mundinho onde só não é loura quem não quer, mas bem mais recompensador.

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