domingo, 19 de setembro de 2010

A Entrega

Ela estava inquieta. Relia as frases sem absorver-lhes o sentido, caminhava pela casa procurando algo, distraía-se, esquecia. Então buscava outro livro, abria-o aleatoriamente, lia algumas palavras, queria aquelas que traduzissem a intensidade daquilo que sentia. Não era enxergar as coisas com lentes cor-de-rosa. Via tudo tão transparente, as coisas tinham cor, cheiro e verdade. E era possível tocá-las, e o que ela sentia, ele incitava-a a falar.
Se ela se guardava poupando palavras, mascarando seus medos com cortinas de silêncio e displicência, ele percebia. Era pouco o tempo daquela intimidade, mas como ele lhe lia! Com algumas frases precisas, mas principalmente com o seu olhar, ele dissipava aqueles medos, trazia-a para outro lugar. E como era bom então estar ali. Aquele lugar existia! Tinha pés que se tocavam, mãos entrelaçadas, copo d'água, vela acesa, se ouvia risos na madrugada. Para que procurar palavras... Não havia mais limites para falá-las.

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